A vaga de calor em Portugal e a resistência das vinhas do Vale do Távora

21 outubro 2022

A histórica vaga de calor que afetou Portugal em julho submeteu o país a temperaturas extremas que, em algumas regiões, se prolongaram praticamente por duas semanas. Esta situação veio trazer fortes desafios à generalidade das atividades, sobretudo à agricultura e à viticultura, inclusivamente no Douro. As vinhas da Quinta do Convento de São Pedro das Águias, no Vale do Távora, mostraram a sua resistência e isso deveu-se, sobretudo, ao clima mais fresco que carateriza o terroir onde crescem.

Segundo os dados partilhados pelo IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera), a estação meteorológica do Pinhão, em pleno Douro, registou no dia 13 de julho, quarta-feira, um novo máximo de temperatura no país para o mês de julho: 47 graus Celsius! No dia seguinte, a 14 de julho, 26 das 93 estações de medição do IPMA distribuídas pelo país registaram também novos recordes de temperatura máxima. Ao mesmo tempo, as temperaturas mínimas estiveram muito altas, em alguns casos acima de 29 graus.

Esta vaga de calor teve a particularidade de se manifestar mais a norte. Historicamente, os valores máximos de temperatura em Portugal costumam estar associados a sul e à região do Alentejo. Contudo, desta vez, a generalidade do território português viu-se envolvido num  cenário geral de dias muito quentes e noites tropicais.

As temperaturas muito altas têm um forte impacto no funcionamento das videiras. Desde logo, podem vingar menos bagos (desavinho, o acidente fisiológico em que as flores não se transformam em fruto), ou formar cachos mais pequenos; com as temperaturas extremas, os bagos podem pura e simplesmente queimar-se, hipotecando gravemente a produção; por fim, de um modo geral, a seca também submete as videiras a um stresse hídrico que resulta num vigor menor, menos fruta ou fruta mais pequena (e até em folhas já mais amareladas para a época...)

Na Quinta do Convento de São Pedro das Águias não se verificarm os graves episódios de fruta queimada que, na sequência dessa vaga de calor, foram registados em muitas regiões. Fatores como a altitude e a orientação das vinhas (principalmente viradas a norte e nordeste) contribuem para temperaturas mais frescas e menos horas de exposição direta ao Sol. A floresta envolvente e a forma como contribui para a fixação de humidade também tem o seu impacto positivo, sobretudo nos patamares mais altos, onde as videiras mostram mais vigor (beneficiadas pelos cursos de água provenientes das pequenas nascentes, que continuam a levar água ao Rio Távora).

Em plena fase de maturação, já em Agosto, o mês revelou-se também muito seco e quente, com mais duas vagas de calor. A colheita começou duas semanas mais cedo do que em 2021 e a generalidade das videiras foram capazes de segurar a acidez que caracteriza a fruta deste terroir, exceção apenas em algumas parcelas mais sujeitas ao stresse hídrico e térmico. A vindima terminou confirmando a expetativa de qualidade, mas, tal como esperado, em resultado do ano, com uma produção menor.