A Quinta do Convento de São Pedro das Águias é uma emblemática propriedade Portuguesa, localizada no Vale do Távora e parte integrante da História do Douro. As suas raízes estão no Séc. XII, quando monges da Ordem de Cister ali se estabeleceram, contribuindo para a introdução da cultura da vinha.
Sendo uma das mais antigas quintas associadas à produção de vinho no Douro, além da História a Quinta do Convento de São Pedro das Águias destaca-se ainda pelo terroir de excelência, daí que se tenha tornado um nome de referência associado aos vinhos do Porto e DOC Douro.
Desde 2018, a Quinta do Convento de São Pedro das Águias é parte da Kranemann Wine Estates, apresentando-se como a joia da coroa de um novo projeto vitivinícola e de enoturismo, neste Douro tão particular que é o Vale do Távora.
O olival e a floresta servem de pano de fundo às robustas paredes de granito da Quinta do Convento de São Pedro das Águias, de onde se pode apreciar as infinitas faixas de videiras que serpenteiam as encostas sobranceiras ao vale do Távora. Uma antiga ponte romana, reconstruída durante a Idade Média, une as margens do rio e surge como um sinal inequívoco da longa história em que assenta esta propriedade.
Ao franquear os portões do antigo complexo murado, o chilrear dos pássaros e o som da água a correr em tanques de pedra tomam conta dos jardins. Entrando nos claustros do antigo mosteiro que dá o nome à quinta, os sons suaves são substituídos pelos ecos dos salpicos da água fresca de nascente que brota da fonte central de pedra. Embora os monges há muito tenham partido, este local de paz convida à reflexão e à contemplação, com um copo de vinho na mão.
A história do nosso convento (ou mosteiro – como surge igualmente descrito nos documentos históricos) é rica em lendas e remonta aos dias em que cavaleiros cristãos lutavam furiosamente contra os muçulmanos, então dominantes, com o intuito de os expulsar e conquistar território que viria a tornar-se Portugal.
Após conquistadas as terras acidentadas das Águias, que englobavam esta zona do Vale do Távora, um primeiro Mosteiro de São Pedro das Águias foi erguido, a pouca distância da nossa quinta, fundado por Dom Rausendo e Dom Tedon, dois guerreiros nobres provenientes de Guimarães.
Uma pequena mas bem preservada capela românica marca a localização do primeiro Mosteiro de São Pedro das Águias. Segundo a lenda, um eremita muçulmano já teria construído uma mesquita primitiva neste mesmo local. Ao conquistarem o território das Águias, Dom Rausendo e Dom Tedon converteram o local de culto à fé cristã, dedicando-o a São Pedro das Águias e fixando um primeiro grupo de cristãos – segundo registos, monges beneditinos – entre os quais um abade de nome Gelásio.
Gelásio desempenha um papel fundamental na lenda de Ardinga, filha do emir muçulmano de Lamego. Se ela realmente trocou olhares com Dom Tedon ou simplesmente se apaixonou pelos contos das suas ousadas façanhas, não é possível precisar. De qualquer forma, o seu amor por ele cresceu tanto que, pela calada da noite, fugiu do castelo de seu pai, acompanhada por uma aia de confiança, determinada a casar-se com o seu amado, o qual, por acaso, se encontrava longe, em campanha contra os infiéis.
Ao longo do seu caminho, através do cenário traiçoeiro, até ao Castelo de Cabriz, as duas mulheres chegaram ao eremitério de São Pedro das Águias, a menos de uma légua da casa de Dom Tedon. Tendo explicado a Gelásio as razões da sua presença naquele ermo e as suas intenções, o monge converte-as ao Cristianismo e baptiza-as de forma a prosseguir com o matrimónio.
Apesar do batismo de Ardinga, o casamento nunca chegou a ocorrer. Al-Boazan, o seu enfurecido pai, perseguia-a de perto e, ao encontrá-la, estrangulou-a, lançando o cadáver às águas do rio Távora. No meio do rio, uma pedra solitária e pálida marca o local onde o seu corpo acabou por repousar. Reza a sabedoria local que o facto deste “Penedo ou Cova da Moira” ficar coberto por água é prenúncio de um ano particularmente chuvoso.
A reação de Dom Tedon à morte de Ardinga varia conforme a origem da narrativa. De acordo com uma versão, o guerreiro, com o coração partido, sepultou o corpo mutilado da amada no local onde hoje se ergue a Capela de São Pedro das Águias e elevou à categoria de mosteiro o antigo eremitério. Segundo outra versão, terá transformado em raiva incontida a sua inconsolável tristeza, vindo a perecer heroicamente em combate contra os inimigos figadais, em Paredes.
Segundo as Crónicas de Cister, da autoria de frei Bernardo de Brito, a principal fonte de informação sobre os primeiros anos do Mosteiro de São Pedro das Águias, o eremitério ter-se-á transformado em mosteiro após a morte de Dom Tedon.
Restaurada durante a década de 1950, a capela do antigo mosteiro é uma joia da arquitetura românica, embora enfatize a natureza restritiva do local. Como é típico das igrejas cristãs, a entrada principal fica voltada a oeste, ao passo que a nave aponta para leste. Situada numa estreita escarpa com vista para uma descida íngreme até ao rio Távora, a porta de entrada da capela, lindamente esculpida, fica a poucos metros da rocha escarpada e só é acessível através de um estreito arco. Apesar deste acesso, só possível de transpor em fila indiana, por conseguinte, de exposição limitada, o tímpano e os capitéis da porta são ricos em simbolismo decorativo, incluindo algumas figuras satíricas.
O espaço limitado, assim como a inadequação para a agricultura da paisagem circundante significavam que o local estava longe de ser o ideal para apoiar um mosteiro em crescimento e em pleno funcionamento. Dois dos bisnetos de Dom Rausendo fundaram assim, no século XII, o “novo” mosteiro, primeiro conhecido por São Pedro de Távora ou São Pedro-o-Novo. Posteriormente, a sua irmã doou terras e os monges mudaram-se do mosteiro original para as novas e melhoradas instalações, onde poderiam ser autossuficientes, estabelecendo-se então naquele que é hoje conhecido como Convento de São Pedro das Águias.
Os primeiros monges de São Pedro das Águias pertenciam à Ordem Beneditina e não está claro exatamente a partir de que momento trocaram as vestes negras pelos hábitos brancos e práticas religiosas austeras, próprias da Ordem de Cister. Esta troca poderá ter ocorrido aquando da mudança para o novo local, ou mesmo de antemão. Fortemente ligados à terra, entre outras atividades, os monges foram responsáveis pela introdução da cultura da vinha, tal como fizeram noutras regiões.
Ao longo dos séculos, o novo mosteiro de São Pedro das Águias entrou em grave declínio, ao ponto de levar os peregrinos a escrever sobre as condições chocantes que encontraram no século XVI. Como consequência do Concílio de Trento, o mosteiro foi completamente reconstruído no século XVII no novo estilo da moda, o barroco. Sob o patrocínio subsequente da rainha Maria Pia, o complexo religioso floresceu até à promulgação, em 1834, de legislação que aboliu e confiscou todos os mosteiros portugueses.
Em 1836, o mosteiro havia sido saqueado pela população local e parcialmente destruído por um incêndio. Pedras das ruínas foram usadas para construir algumas das estruturas que hoje podemos observar. Os poucos documentos e conteúdo restante foram vendidos ao desbarato alguns anos depois.
Algo que os atacantes foram incapazes de levar foi a estátua de São Pedro, que permanece no nicho da igreja até hoje. Reza a lenda que quando a multidão tentou removê-la, o chão começou a tremer. Este evento aterrorizante deu peso à noção de que nada escaparia intacto caso a imagem do santo fosse removida. Consequentemente, ficou em paz desde então.