Acompanhamos Christoph Kranemann numa entrevista pelos claustros da Quinta do Convento de São Pedro das Águias, no vale do Távora. Enquanto conversamos, o seu olhar é de permanente contemplação. Podia ter apostado em fazer vinho em qualquer sítio do Mundo, até o considerou na Austrália, mas quando se lhe pergunta “porquê aqui?”, a resposta é acompanhada de um olhar ainda mais apaixonado. “Já viu um sítio mais perfeito do que este?”
A primeira vez que vim a Portugal foi nos anos 90, a propósito de uma conferência médica no Algarve. Foi mais ou menos nessa altura da minha vida que comecei a interessar-me mais por vinho, sobretudo após uma outra viagem à Austrália no final dessa década, um país onde acabei por visitar umas 200 adegas, por curiosidade. Enfim, o que fazer na Austrália, visitar o “outback” e ser mordido por um animal qualquer, ou descobrir vinhos? (risos). Eu escolhi sempre a segunda opção...
Quando conheci a minha mulher, Dina, comecei a despertar mais interesse pelos vinhos portugueses. Isso foi por volta de 2004. O primeiro vinho que me marcou muito, mesmo muito, foi um Barca-Velha que abrimos num jantar, num restaurante de Lisboa chamado Pabe. Lembro-me perfeitamente. Esse vinho estava simplesmente brilhante, nunca mais me saiu da memória... À medida que fui viajando com mais frequência para Portugal, fui naturalmente aprofundando o conhecimento pelos vinhos locais. Lembro-me de uma visita à Quinta do Crasto, aqui no Douro, onde estive num jantar mágico e se abriram umas garrafas antigas de Porto simplesmente fabulosas.
A Quinta do Convento só a descobri muito mais tarde, numa conversa fortuita, quando um amigo comentou que conhecia alguém interessado em vender uma quinta fantástica no Norte de Portugal. Claro, eu fiquei interessado em saber o que seria; depois de cá vir a primeira vez acabámos por fechar negócio.
Existe sítio mais perfeito do que este? As vinhas, o rio, toda esta paisagem fantástica... A arquitetura... Tenho raízes alemãs e sempre me interessei muito por arquitetura e história. Então este convento do século XII, com estes claustros e toda esta memória, é uma espécie de sítio perfeito, que reúne aquilo de que mais gosto. É um sítio mágico!
Queremos ser um projeto de referência que, através dos vinhos e do Enoturismo, possa ajudar a identificar e a dinamizar esta região tão particular que é o Tabuaço e o Vale do Távora. Isso vai conseguir-se, potenciando aquilo que temos aqui de muito especial: esta altitude, a frescura, os solos de xisto e granito... À medida que fui construindo mais interesse por vinhos, comecei também a estar mais atento a questões como o terroir, a geologia, o comportamento de diferentes castas em diferentes solos, e aqui encontramos um património muito interessante, que nos permite fazer vinhos com um perfil muito especial. Portugal e o Douro são donos de uma riqueza e de uma originalidade impressionantes, que muito aprecio, não apenas nos vinhos de mesa, mas também nos vinhos fortificados. Poder trabalhar esta riqueza é um enorme privilégio e oportunidade.