Num mundo onde a precisão e a rastreabilidade dominam a viticultura moderna, há um conceito antigo que continua a surpreender enófilos pela sua autenticidade e complexidade: o Field Blend. Na Quinta do Convento de São Pedro das Águias, esse método tradicional ganha vida ao revelar a riqueza das vinhas velhas e a expressão pura do terroir do Vale do Távora.
Field Blend é o termo usado para descrever vinhas onde diferentes castas — muitas vezes dezenas delas — foram plantadas de forma misturada, sem uma separação clara entre elas. Em vez de colher e vinificar cada casta separadamente, como é mais comum hoje, os field blends são vindimados e fermentados em conjunto, como um só lote.
Esta prática era habitual em tempos antigos, quando os viticultores não tinham o conhecimento técnico ou as ferramentas modernas para vinificar casta a casta. Mas não era apenas uma questão de limitação: tratava-se também de uma filosofia. Ao plantar diferentes variedades lado a lado, os agricultores protegiam-se contra os caprichos da natureza (umas castas resistem melhor à seca, outras ao míldio ou à geada) e procuravam um equilíbrio natural no vinho.
Este tipo de plantação proporciona vinhos com uma complexidade difícil de replicar de outra forma. Cada casta traz o seu contributo: acidez, cor, tanino, perfume e estrutura. O resultado é um vinho que não é uma soma de partes, mas sim uma expressão da vinha, do clima e do solo — no nosso caso, solos de xisto, granito e quartzo branco que influencia a mineralidade dos nossos vinhos.
Recuperar e valorizar os field blends é também um ato de preservação do património vitícola do Douro. Estas vinhas são verdadeiros tesouros genéticos e culturais. Ao cuidarmos delas, não só garantimos vinhos autênticos e inimitáveis, como também passamos às gerações futuras um testemunho vivo da nossa identidade. Tendo em vista essa mesma preservação, na Quinta do Convento de São Pedro das Águias temos novas plantações com o mesmo conceito, assegurando que esta abordagem ancestral continua a fazer parte do nosso futuro.
Acreditamos que há algo de profundamente moderno na ideia de respeitar o tempo, o lugar e a diversidade natural da vinha.