A colheita de 2020 será para ficar na história. O ano em que o mundo se uniu na luta contra uma pandemia, chamou à responsabilidade uma geração que será lembrada pelas suas acções. No sector do vinho, e na Kranemann Wine Estates em particular, os vinhos da colheita 2020 servirão, certamente, para contar a história da sua região, neste caso um Douro particularmente dependente da intervenção humana, com gentes que demonstraram enorme capacidade de adaptação, garra e resiliência perante o desafio.
As uvas que entraram na adega trouxeram qualidade. As provas que se prolongam pelo Inverno continuam a mostrar um grande potencial. Os atributos do nosso terroir confirmam-se, mas existem sempre vinhos surpreendentes. Como, por exemplo, o Rabigato, a insinuar-se de forma ainda mais especial, em toda a sua frescura e mineralidade, e a sugerir que pode vir aí um vinho único, quem sabe até um monocasta. Nos tintos, destaque à mais desconhecida Tinta Barroca, ou a emblemática Touriga Franca, com a sua concentração verdadeiramente extraordinária...
Relatório de vindima
Do ponto de vista das condições climatéricas, o ano foi igualmente desafiante. O Inverno foi chuvoso, mas dentro da média esperada para a época e, apesar de na Quinta do convento os Invernos serem sempre muito rigorosos e frios, este foi um pouco mais ameno no que a temperaturas diz respeito.
Março e Abril foram chuvosos. A primavera colocou-nos a inevitável pressão fitossanitária, especialmente crítica para algumas castas, como a Tinta Roriz, levando-nos a intervir e a precaver qualquer ataque grave de míldio ou oídio. Em Abril tivemos até um episódio de neve. Depois veio um Maio seco, seguido de dois meses muitos quentes, com relevantes picos de calor.
O Agosto, também muito quente, trouxe-nos amplitudes térmica mais baixas do que em anos recentes, acelerando uma maturação que acabou por dar-se de forma muito heterogénea, e que nos fez começar a vindima logo a 26 de Agosto, bem mais cedo do que em 2019.
Setembro trouxe um pouco de chuva que, apesar do risco, sanitário veio ajudar a uniformizar a maturação de algumas castas mais atrasadas. No final, tivemos uma produção consideravelmente menor (cerca de 26%, relativamente ao ano transato), mas, por outro lado, e apesar de todas as surpresas que o clima nos trouxe, chegaram-nos à adega uvas com grande potencial, tanto nos vinhos de mesa como nos vinhos generosos.
Agora sucedem-se as análises e as provas. E continua o tal entusiasmo em torno dos vinhos desta colheita de 2020. Que, por todas as razões, ficará seguramente para a história.
Susete Melo (enóloga)