Os vinhos brancos produzidos pela Kranemann Wine Estates, na Quinta do Convento do São Pedro das Águias, em pleno Vale do Távora, revelam atributos especiais. São vinhos elegantes, que se destacam pelo equilíbrio entre fruta, frescura e mineralidade, mas também por uma acidez marcada, que lhes confere grande potencial de evolução.
Se o Douro é mundialmente reconhecido pelos seus vinhos do Porto e pelos seus tintos plenos de carácter, a verdade é que também pode produzir vinhos brancos surpreendentes. Geralmente, esses vinhos expressam terroirs muito específicos, normalmente em zonas mais frescas, onde as castas tradicionais da região evoluem de forma muito particular (graças ao tipo de solos, exposições, altitude e variação de clima). É o caso da Quinta do Convento de S. Pedro das Águias. Vamos por partes:
As castas
A forma como as principais castas brancas evoluem e se complementam com o nosso terroir é crucial para o perfil dos nossos vinhos. Destacamos as características de quatro castas emblemáticas para nós: Rabigato, Viosinho, Gouveio e Arinto. De uma forma muito simplista, o Rabigato dá-nos bons aromas, fruta, álcool e acidez média. O Viosinho dá-nos também intensidade aromática e acidez média, mas com uma boa estrutura. O Gouveio destaca-se pelos aromas mais intensos, pela graduação alcoólica mais alta. Já o Arinto é o paradigma da acidez e da mineralidade, sendo por isso importantíssimo para que os vinhos mostrem a sua capacidade de evolução de muitos anos. Por outro lado, e salvaguardando algumas variações normais no comportamento de cada casta, todas tendem a oferecer-nos produções equilibradas e qualidade de fruta consistente.
A decisão humana
Quando as castas se expressam naturalmente desta forma, o nosso foco está precisamente em trabalhar o potencial das mesmas, integrando o que de melhor cada uma nos oferece, sem muita intervenção. É isso que orienta as nossas decisões, desde a viticultura, à vindima e à enologia na adega. Por exemplo, as parcelas dedicadas à produção de brancos estão identificadas nas zonas mais altas e frescas da Quinta, essencialmente marcada pelos solos de mistura de xisto e granito. Se o clima do Vale do Távora já é mais fresco do que é comum no Douro, a conjugação da altitude com a exposição das vinhas a norte e nordeste (menos sol direto e menor stresse de calor, nomeadamente nos períodos mais quentes do dia) permite que a maturação das uvas brancas seja bastante equilibrada. Por isso, na vindima, e não apenas no Arinto, as uvas apresentam níveis de acidez muito interessantes no ponto de maturação em que escolhemos fazer a colheita. Tudo isto contribui para a frescura e longevidade dos vinhos.
A acidez como espinha dorsal do vinho
A acidez é estruturante do potencial de evolução do vinho. Noutro terroir e sem este clima fresco, a forma como as castas brancas se expressam seria totalmente distinta. Aquela expressão de que os vinhos se fazem “na vinha” deve aplicar-se, muito em particular, a estes brancos. Desde logo, a nossa grande preocupação está, portanto, em salvaguardar a acidez da fruta, identificando o momento certo da colheita. A partir daí, na adega, a lógica de intervenção é mínima.
Os solos e a mineralidade.
Um dos descritivos muito valorizados num vinho, em particular num branco, pode ser a mineralidade. Existe alguma discussão, até científica, em torno da forma como estes atributos minerais chegam a um vinho; resultam da geologia do local ou não? Estes vinhos da Kranemann acabam por despertar sensações profundamente minerais, fazendo lembrar pedra molhada. Estas notas são mais comuns nas parcelas onde os solos são muito marcados pelo granito. Aliás, é esta nossa observação que nos faz decidir que as parcelas onde vamos implementar vinhas novas de brancos devem garantir uma combinação essencial: granito e altitude! Porque a mineralidade, apesar da discussão, também nos interessa muito neste perfil de frescura e elegância.
Podemos assim concluir que, na Quinta do Convento de São Pedro das Águias, temos os componentes certos para produzir vinhos brancos frescos e minerais. A nossa quinta e o Vale do Távora não serão casos únicos no Douro, mas é a realidade da Kranemann Wine Estates, e é a que queremos partilhar convosco.
Maria Susete Melo
(Directora de Viticultura e Enologia)