Terroir. Esta é uma designação de origem francesa que se tornou uma das palavras mais utilizadas no mundo do vinho; compreende todo o conjunto de fatores (entre tipos de solo, orografia, clima, castas e até intervenção humana) que define o perfil dos vinhos de uma determinada área ou região; e marca, portanto, a identidade de um projeto vitivinícola. Na Kranemann Wine Estates, o terroir compreende uma feliz conjugação de fatores que concorrem para as características bastante particulares dos vinhos produzidos, resultando em atributos transversais a toda a gama, ao nível da mineralidade e acidez, frescura e elegância. Eis alguns dos pontos de destaque do terroir Kranemann Wine Estates.
Os solos de xisto, granito e quartzo
As vinhas Kranemann Wine Estates, em particular na Quinta do Convento de São Pedro das Águias, estão localizadas em pleno Vale do Távora, Tabuaço, numa zona de transição entre o Douro e o Dão, onde os solos integram uma particularidade muito significativa: são compostos pelo habitual xisto vermelho duriense, mas também por granito e, ainda, algum quartzo (na propriedade são comuns os cortes de rocha que evidenciam esse quartzo branco). É por esta composição mista que o IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e Porto), aliás, define os solos da região como sendo “solos de transição”. O xisto confere uma estrutura tânica muito particular e delicada aos vinhos. O granito e quartzo refletem-se na sua evidente mineralidade.
A exposição solar
Na viticultura heroica do Douro, os socalcos (uma ou duas linhas de vinha) e os patamares (mais de duas linhas de vinha) foram construídos ao longo dos séculos de modo a vencer-se a forte inclinação do relevo. Em consequência da orografia, a orientação das vinhas e a sua exposição solar nem sempre pode ser trabalhada. A Quinta do Convento de São Pedro das Águias, no entanto, beneficia de uma orientação a Norte e Nordeste que resulta numa exposição solar menos intensa, nomeadamente nas horas mais quentes do dia. O stresse de calor a que as videiras são sujeitas é menor, um facto que concorre para a boa acidez da fruta, mesmo na fase final de maturação.
A altitude e o clima
Se a orientação a norte e nordeste garante uma menor exposição solar, também a altitude (vinhas até 420 metros) é garantia de um clima com temperaturas mais frescas ao longo de todo o ano. O calor que se manifesta até ao momento da vindima tende a significar mais açúcar, mais álcool e menor acidez nas uvas. O clima fresco, portanto, é mais uma razão que contribui para a boa acidez da fruta. A altitude garante, por outro lado, amplitudes térmicas maiores. Mesmo no verão, as noites do Vale do Távora são consideravelmente frias tendo em conta aquilo que é o padrão do Douro. Também assim as videiras recuperam melhor do stresse do calor diário, salvaguardando a própria vitalidade e a qualidade final dos cachos.
As castas tradicionais
No que à qualidade das uvas e vinhos diz respeito, as castas implementadas têm naturalmente importância crucial. O Douro é um hino à herança das variedades portuguesas locais e a Kranemann Wine Estates não é exceção. Nas castas brancas, as icónicas Rabigato, Gouveio e Viosinho jogam papel crucial, algumas em parcelas específicas, escolhidas pela sua altitude ou composição do solo, nomeadamente, onde o granito é mais acentuado. Está em fase de implementação, também, uma pequena vinha tradicional branca, com um field blend de castas tradicionais. Nas variedades tintas, destacam-se a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinta Roriz e Bastardo. O terroir também é a histórica e a viticultura atual salvaguarda a tipicidade associada ao Douro, inclusive nas vinhas mais recentes. Mantém-se igualmente vinhas velhas, nomeadamente as que são garantia de qualidade e elegância superiores. A mais antiga vinha na Quinta do Convento de São Pedro das Águias, conhecida como “Vinha do Feliciano”, data de 1970 e impõe-se pela excelência das suas colheitas, ano após ano. É, por isso, principal fonte dos vinhos topo-de-gama Kranemann Wine Estates.
A intervenção humana
Por fim, o terroir é ainda marcado por toda a intervenção humana, desde a viticultura, aos processos de vinificação (neste artigo, deixamos o tema da vinificação para posterior abordagem detalhada). Na viticultura heroica do Douro, onde o relevo obriga a que generalidade das intervenções (desde a poda à colheita) obedeça a processos manuais e tradicionais, a experiência e capacidade de decisão são cruciais. Pretende-se que as escolhas realizadas possam assegurar a expressão natural da vinha em todo o seu ambiente, potenciando o que tem de genuíno e diferenciador. Como acontece, por exemplo, com a poda (ver artigo sobre a poda aqui).
Cada garrafa de um vinho produzido pela Kranemann Wine Estates, em pleno Vale do Távora, é, portanto, a soma de condições bastante particulares. É o espelho do precioso Vale do Távora. Mas o que deve ser um vinho, se não a expressão genuína do local onde nasce?