Com o chegar do final do ciclo da vinha, fomos ter com o nosso viticultor, Amândio Cruz, para ficarmos a saber o como tudo correu e o que esperar da vindima que se avizinha.
1. O que acha da viticultura no Douro?
A viticultura do Douro é considerada no GiESCO (Group of International Experts for Cooperation on Vitivinicultural Systems), como viticultura heroica, viticultura de montanha, dada a dureza das condições edafo-climáticas em que se desenvolve. De facto, seja pela orografia, seja pelas condições climáticas que prevalecem nesta região, é uma viticultura árdua, de grande grau de dificuldade. Por outro lado, o tipo de solos, o relevo, o clima e o encepamento únicos desta região, dão origem a vinhos distintos e de grande qualidade.
2. No seu conhecimento da viticultura em Portugal, o que acha que diferencia o Douro das restantes regiões?
Essencialmente, o que distingue o Douro das demais regiões vitícolas portuguesas, são as suas condições orográficas e climáticas. A presença de diversos rios que a atravessam e que têm como “espinha dorsal” o rio Douro, contribuem também para essa diferenciação, uma vez que criam microclimas específicos onde as diversas castas amadurecem de modo diferente. Além disso, a viticultura duriense, desenvolve-se a altitudes completamente diferentes, consoante as vinhas se localizam perto dos rios ou afastadas dos mesmos, encostas acima. A grande diferenciação climática observada desde o Baixo Corgo ao Douro Superior, contribuem para a obtenção de vinhos (Douro e Porto), com características completamente distintas uns dos outros.
3. E a Quinta do Convento de S.Pedro das Águias, o que a distingue?
A Quinta do Convento encontra-se nas margens do Rio Távora. Aqui, os solos a cotas mais elevadas são maioritariamente de origem granítica, o que associado à exposição das vinhas predominantemente viradas a Norte, origina uvas mais equilibradas em termos de açúcares vs acidez, permitindo a obtenção de vinhos mais frescos e claramente diferenciados dos tradicionais Douros ou Portos, mais alcoólicos e de menor frescura, originários de partes mais quentes da região. Além disso, a Quinta do Convento, é uma Quinta com grande disponibilidade hídrica, o que poderá ser uma vantagem competitiva, no cenário das alterações climáticas que se anunciam.
4. Desde que abraçou o projecto, quais foram os maiores desafios com que se deparou na quinta?
Sendo uma viticultura de montanha, muita da mecanização passível de utilizar noutras regiões, aqui não funciona, pelo que muitos dos trabalhos são maioritariamente manuais.
5. Como avalia a evolução do projecto?
O projeto tem evoluído de forma positiva, com a bem delineada estratégia de plantar mais castas brancas, uma vez que o mercado “pede” mais destes tipos de vinho. Além disso, foram substituídas castas tintas que se encontravam plantadas a maior altitude, por castas brancas, onde o clima é mais fresco e mais propício a estas castas. A nível de vinhos, a sua qualidade e diversidade tem aumentado de forma consistente, atingindo muitos deles o patamar da excelência.
6. Em geral, como foi o ano a nível da viticultura em Portugal?
A nível nacional, 2024, foi e continua a ser um ano extremamente difícil em termos sanitários, com chuvas persistentes ao longo de toda a Primavera e início do Verão. Estas condições de elevada humidade originaram ataques contínuos e severos de míldio, tanto na folhagem, como nos próprios cachos. Com tanta água disponível no solo, o controlo das infestantes, revelou-se também uma tarefa árdua nesta campanha.
Um ano destes, já há muito que não era observado na viticultura portuguesa. Mais a Sul, em especial no Alentejo, algumas vagas de calor, levaram ao escaldão nas uvas.
7. E no Douro?
No Douro, nas zonas de maior precipitação, as condições foram semelhantes às do resto país, enquanto mais para o interior da região, as condições climáticas mais secas, facilitaram um pouco o controlo desta doença.
8. E na Quinta do Convento de S.Pedro das Águias?
Felizmente na Quinta do Convento, o controlo das doenças criptogâmicas (míldio e oídio), fez-se de forma relativamente eficaz. De facto, pese embora ter também ocorrido precipitação durante a Primavera e início de Verão, a oportunidade nas pulverizações e os fungicidas escolhidos parecem ter sido eficazes no seu combate. A maior dificuldade, foi também o controlo das ervas.
9. Como prevê a vindima? E a qualidade da uva?
Espera-se que os meses em que a uva amadurece (Agosto e Setembro), decorram secos e com temperaturas relativamente amenas. Se tal se verificar, em especial a ausência de chuvas em Setembro, creio que será um ano de excelente qualidade da uva e de grande potencial para a obtenção de vinhos de elevado nível. Em relação à quantidade, é promissora.