2022 ficará na história pelas surpresas que apresentou, sobretudo do ponto de vista climático. Este foi o ano em que a estação meteorológica do Pinhão, em pleno Douro, chegou a registar, no dia 13 de julho, quarta-feira, um novo máximo de temperatura em Portugal, para esse mês: 47 graus Celsius!
Perante a vaga de calor que assolou o país, a vinha mostrou a sua resistência, mas, naturalmente, a produção ressentiu-se. 2022, contudo, não deixa de ser um ano positivo. Desde logo, porque a fruta que acabou por entrar na adega demonstrou boa qualidade (e está a comprovar a boa expetativa nos vinhos que evoluem em adega).
Os resultados alcançados validam, por outro lado, a qualidade das decisões na abordagem à viticultura, ao longo do ano; e traduzem a eficiência de uma equipa que se mantém estável ao longo dos anos, permitindo excelente capacidade de resposta, sobretudo no momento decisivo da vindima, concluindo as operações de colheita nos timings que se impunham (graças à interrupção motivada pelas chuvas de Setembro, o tempo de vindima acabou por ser o mais curto desde 2018).
Analisando 2022 em maior detalhe:
O clima
Ano bastante incaracterístico do ponto de vista climático. Deste logo, muito seco e quente. As temperaturas registaram sempre médias mais altas do que nos anos anteriores. Aliás, o país esteve em situação de seca extrema por largo período. Em resultado, a vinha ressentiu-se e mostrou uma quebra de vigor em algumas parcelas, sobretudo de videiras mais novas. Os meses de Julho e Agosto foram mesmo muito atípicos na Quinta do Convento de São Pedro das Águias. Na verdade, não existe memória de vagas de calor como as deste ano, em que até as temperaturas noturnas se mantiveram bastante altas - temperaturas diárias de 42ºC e temperaturas noturnas de 35ºC, em vários dias de Julho e Agosto.
Posteriormente, setembro começou quente e seco, mas a semana 37 trouxe a chuva.
O ciclo da vinha
Comparado com 2021, o abrolhamento ocorreu sensivelmente na mesma altura, mas a fase do pintor começou mais cedo. Em termos de maturação, a variedade Tinta Roriz foi a que demonstrou um comportamento menos estável, apresentando alguma inconsistência na evolução dos cachos. O ano seco trouxe menor pressão em termos de míldios, mas não deixou de potenciar o risco de oídio – felizmente bem controlados e sem casos significativos de doença.
A vindima
Em termos gerais, as uvas chegaram ao momento de vindima em boas condições sanitárias, tanto antes como depois das chuvas de Setembro, o que não deixa de atestar o resultado das boas práticas de viticultura implementadas. A colheita arrancou duas semanas mais cedo do que em 2021, a 30 de Agosto, e terminou um mês mais tarde, a 29 de outubro. A produção decresceu 26%, embora a fruta que entrou na adega tenha apresentado boa qualidade, criando boa expetativa em torno dos novos vinhos.